VALORES PARA A CONVIVÊNCIA – ORDEM
Ordem e Progresso" é o lema nacional da República Federativa do Brasil a partir do momento de sua formação. A expressão é o lema político do positivismo, forma abreviada do lema de autoria do positivista francês Auguste Comte: "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim"
ONDE E COMO?
A ordem é a disposição das coisas no espaço ou no tempo que lhes corresponde segundo certas regras estabelecidas. A ordem põe as coisas no seu lugar e no seu momento.
Há crianças que parece que nasceram com o dom da ordem. Entramos no seu quarto e está tudo no lugar: a roupa, os jogos, os objetos, os enfeites, até os sapatos estão bem colocados! Os livros estão agrupados por temas e, se há coleções, os tomos seguem perfeitamente a numeração na estante.
Todavia, há outros em que este dom nunca existiu ou se evaporou. Seu quarto é uma bagunça e tudo está de pernas para o ar. Será que ele consegue encontrar o que procura? Eles dizem que sim, mas nós duvidamos seriamente.
Assim, há filhos que nos darão muito pouco trabalho na educação deste valor porque são ordenados por temperamento. Com outros, nosso empenho para que assimilem a ordem será quase frustrado, mas mesmo assim devemos seguir tentando.
O sentimento de frustração se acentua se considerarmos que, no caso da ordem, os resultados podem ser mais imediatos que em outros. Há valores cujos frutos só são apreciados a longo prazo e talvez de forma bastante imprecisa; no caso da ordem, os resultados são contabilizados rapidamente e de forma muito evidente.
POR AS IDEIAS EM ORDEM
Ao falar do valor da ordem, só pensamos na ordem das coisas. Entretanto, há outra ordem muito mais importante: a ordem nas ideias. As diferenças individuais também são evidentes neste campo:
Há pessoas mais lógicas, mais ordenadas em seus pensamentos, cujos raciocínios funcionam como rigorosos silogismos. Sua capacidade dedutiva é hábil e suas conclusões trazem consigo o rigor mental das premissas estabelecidas.
Há outras pessoas mais intuitivas, que parecem passar de simples dados captados a deduções que percebem com uma clareza absoluta.
Então o que entendemos por ordem nas ideias? É levar em conta todos os dados possíveis para estarem menos expostos ao erro. Assim, economiza-se tempo e energia, desânimos e repetições inúteis no momento de analisar a realidade, e se consegue atuar corretamente. Do mesmo modo que a ordem em uma livraria nos faz encontrar um livro com maior rapidez, também a ordem nas ideias nos permite chegar à verdade com uma margem de erro menor.
É verdade que a inteligência lógica se desenvolve lentamente, mas podemos ajudá-los nesse processo. Nossos filhos podem ir se dando conta de que nem tudo que ocorre depois de “A” tem “A” como causa; que as causas precedem os efeitos e não vice-versa; que de um só caso não podemos deduzir uma lei universal; que a exceção é compatível com uma regra geral; e, mais, uma exceção supõe que haja uma regra; que de uma suposição absurda podemos deduzir qualquer absurdo; que uma suspeita, nem cem delas, não dão certeza de nada; que os rumores muitas vezes são falsos; que existem ilusões de óptica... e de outras ordens; que quem pretende demonstrar à exaustão, ao final não demonstra nada; que na vida nem tudo é branco ou preto; e, ainda que pareça um paradoxo, que o coração tem razões que a razão não compreende.
Se você defende a ordem, ela o defenderá
POR ORDEM NO TEMPO
Em primeiro lugar, devemos considerar que o horário não deve nos escravizar: "Não é o homem que foi feito para o horário, mas o horário para o homem".
A liberdade de nossos filhos para organizar o horário de seu tempo livre deve corresponder progressivamente à sua iniciativa à medida que cresçam; os anos lhes conferirão maior autonomia. De qualquer modo, sempre devemos nos reservar a faculdade de revisá-lo e, talvez, dialogar com eles sobre a conveniência de introduzir alguma mudança. Dentro do possível, aprovaremos seu horário e nos poremos à disposição, por exemplo, para revisá-lo e introduzir as mudanças oportunas.
A partir dos 7 anos, as crianças podem começar a elaborar o seu horário. Ficaremos surpresos ao comprovar que eles são mais fiéis do que se o tivéssemos prescrito com "todo o peso da autoridade". Sempre é mais agradável, eficaz e duradouro acatar as nossas próprias decisões, impostas livremente, do que aceitar as decisões dos outros, por melhores que sejam.
A elaboração de um horário é especialmente importante para o período de férias escolares. Normalmente, nossos filhos têm o tempo muito regulado durante o ano letivo; mesmo as horas que passam em casa dão pouca margem de tempo livre. Os dias de folga são os que melhor se prestam a lhes oferecer um excelente aprendizado sobre a organização do horário. Vale a pena aproveitá-los. Claro que a distribuição da carga horária deve incluir diversão, leitura, trabalho adequado e descanso.
Ironicamente, poderíamos dizer que é um horário "para não ser cumprido". Vamos explicar esta ideia: o horário de férias não tem de ser uma camisa-de-força, mas sim um recurso que se tem à mão para que o tempo renda o máximo possível e que não haja lugar para o ócio desorientador. Com ele as crianças sempre terão o que fazer; será um pano de fundo que deverá passar para o primeiro plano caso não haja outro compromisso mais adequado. A flexibilidade deve ser circunstancial a este horário, no sentido de que deixa de ser obrigatório quando qualquer circunstância aconselhe um melhor aproveitamento do tempo. E, como qualquer horário, deve ser revisto e melhorado.
Não obstante, vale recordar que "o tempo do prazer passa muito depressa", enquanto "o tempo da dor é muito lento".
Uma lebre arrasta os ponteiros do relógio quando estamos com os amigos; uma tartaruga das mais lentas os arrasta quando estamos sentados na cadeira do dentista.
POR ORDEM NO ESPAÇO
Organizar o espaço onde nos encontramos é a ordem mais visível, a mais espetacular e também a mais controlável.
Certas crianças têm um quarto em que as gavetas de roupa parecem mais de uma loja de luxo do que de um quarto de criança; tudo bem colocado, dobrado cuidadosamente, no lugar, e em perfeito estado.
Outras crianças, ao contrário, nunca encontram o que vestir; quando se tenta abrir seu armário, podem ocorrer duas coisas: que caia tudo... ou que o mundo desabe sobre a sua cabeça.
O esforço dos pais é titânico para que estes últimos adquiram um mínimo sentido de ordem na distribuição dos seus objetos no espaço.
Os primeiros dão pouco trabalho, mas estes nos dão o dobro.
Os adultos não devem ser os únicos encarregados da arrumação, nem tampouco só as crianças, mas nós e eles, juntos. Se só nós arrumamos, a casa estará arrumada, sim; mas os pequenos não só não terão aprendido este valor como terão aprendido algo pior: que "os outros se encarregam de fazê-La". Nós nos tornaremos empregados submissos de crianças mimadas.
O aborrecimento é a doença dos que têm a alma vazia e a inteligência sem imaginação
FRASES CÉLEBRES
- Com ordem e com tempo se encontra o segredo de fazer tudo, e de fazê-lo bem. (Pitágoras, matemático grego).
- Não voltes a fazer o que já está feito. (Terêncio, comediógrafo latino).
- Não está em nenhum lugar o que está em todas as partes. (Sêneca, filósofo latino).
- Que em vossa casa cada coisa tenha seu lugar; cada negócio, seu tempo. (Benjamin Franklin, político norte-americano).
A MOCHILA DE VITOR
- Papai, venha aqui, por favor. Minha mochila é muito pequena; preciso de outra maior.
- Mas, Vitor, meu filho, como é possível que a mochila de seu irmão mais velho seja pequena para você?
- Olhe, papai, ela já está cheia e metade das coisas que eu quero levar para a colônia de férias ainda está fora dela.
- Vamos ver, Vitor; em que ordem você começou a encher a mochila?
- Como assim, papai? Em que ordem? Tem que ter ordem?
O pai de Vitor o fez esvaziar a mochila. O garoto havia posto um monte de roupa sem dobrar, vários objetos de qualquer modo; ficaram vazios sem preencher, a lanterna funcionava como um mastro no interior e o saco de dormir ocupava meia mochila porque estava em posição vertical!
- Agora vamos colocar tudo de maneira ordenada, Vitor.
Não vamos contar como fizeram; todos nós podemos imaginar, e o resultado final é que houve espaço para tudo e ainda sobrou. O saco de dormir, enrolado bem apertado, horizontal, foi sobre a mochila, preso com as correias, que estão lá para isso!
- Era só uma questão de ordem, filho.
Para Vitor pareceu que, mais que uma questão de ordem, era um milagre.
- Papai, você é um gênio, de verdade, um gênio!
NÃO HÁ ORDEM ONDE...
• As coisas se fazem "porque sim".
• As coisas são feitas quando se pode.
• As coisas não têm um lugar certo
• Não se sabe dar a razão de nada.
• A pontualidade não existe nem Para começar nem para terminar
• Nunca se encontra o que se procura.
• Não se pedem explicações, nem se pode dá-Ias.
• Dá no mesmo antes ou depois.
• Dá preguiça buscar as causas. É melhor não perguntar.
• A improvisação é constante.
• Os letreiros não correspondem Aos conteúdos.
• A improvisação é a norma.
• Nem o relógio está na hora
• Começa-se pelo 5, vai-se para o 3, Depois para o 1, termina-se no 2 e o 4 não existe.
ATIVIDADES
A PERGUNTA FUNDAMENTAL
Para pôr ordem nas ideias, o método mais eficaz, sem que seja uma fórmula mágica, é propor-lhes este questionário para que adquiram o hábito de formulá-lo por si mesmos: por quê?
Não se trata tanto de acertar a resposta quanto de adquirir o costume de perguntar o porquê das decisões. Devemos ensinar-lhes na teoria, mas, sobretudo, na prática, a não ter medo de perguntar por que fazem o que fazem.
E perguntar tantas vezes quantas necessárias, até que sejam capazes de encontrar uma resposta coerente.
Pode ser uma razão aceitável se nosso filho responder "porque eu gosto", sempre que a pergunta admitir uma razão estética como justificativa. Seria tão injusto recusar motivos afetivos em questões de gosto como pedir motivos racionais para justificar escolhas estéticas.
MAIS PERGUNTAS
Diante dos projetos que nossos filhos estabelecem, também podemos ajudar-Lhes a ordenar suas ideias se lhes sugerimos que tente responder a certas circunstâncias que circundam inevitavelmente os acontecimentos da vida.
QUEM
lhe disse?
lhe mandou?
o ajudará?
lhe pagará?
o levará?
é?
ONDE
ouviu isso?
poderá fazer isso?
caberá isso?
guardará isso?
procurará por isso?
estava?
COM QUE
vai fazer isso?
dinheiro você conta?
meios?
responderá a isso?
o enfeitará?
trabalham?
COMO
fará isso?
terminará isso?
desenhará isso?
soube?
disse?
andava isso?
QUANDO
começará?
terminará?
lhe disseram?
virá?
fará?
chegou?
USO DO RELÓGIO
O uso correto e responsável do relógio é uma ação básica para pôr ordem no tempo. As crianças devem aprender a administrar seu tempo consultando seus relógios. Deve ser uma aprendizagem progressiva, e também neste aspecto devemos estar atentos a possíveis falhas. Se observarmos que esqueceram de consultar o relógio, só então deveremos intervir para reforçar este hábito.
Em muitos casos, deveremos marcar-lhes o tempo ("dentro de meia hora temos que sair de casa", "às oito e meia você vai para o banho”...), mas também é conveniente deixar que eles aprendam a gerir seu tempo e a realizar as previsões oportunas.
O horário deve ser fixo e sujeito a revisões
UMA AGENDA MUITO ÚTIL
O uso da agenda constitui outra ajuda importante para a organização do tempo, especialmente durante o período escolar. Em primeiro lugar, é um sistema eficaz para que nossos filhos organizem o seu tempo; além disso, nos permite supervisionar os compromissos que eles têm e como distribuem o tempo para cumpri-los. Devem chegar à conclusão de que os pais não exercem um controle fiscalizador, mas ajudam a que não se dispersem, somos "a memória da memória"; devem comprovar que são os primeiros beneficiados com a nossa intervenção.
ORGANIZANDO O ESPAÇO
Para que os nossos filhos possam organizar o seu espaço próprio e pessoal, é importante ressaltar a importância de:
• Espaço físico suficiente. Ainda que os espaços reduzidos também possam (e devam) ser mantidos em ordem, é claro que um espaço maior facilita a distribuição dos objetos e a rapidez em encontra-los... De qualquer modo, sabemos que esta condição não é imprescindível nem, muitas vezes, possível.
• Uso de arquivos. Possibilitam classificar e guardar material escolar (folhas, fichas, exercícios, cadernos, resumos, apontamentos...) ou de computador (disquetes, discos compactos...). Também existem sistemas simples de classificar e guardar fitas de vídeo e de áudio. O costume de utilizar esse tipo de arquivo pode reduzir a desordem local e típica dos "domínios" infantis e juvenis da casa.
• Roupa. Podemos pedir aos nossos filhos que rotulem as caixas ou sacos onde guardam as roupas que não usam cotidianamente (trajes de banho, cachecol, meias de inverno, sandálias de praia, viseiras, gorros...) para evitar ter que abri-los à toa cada vez que procurarem uma peça específica, o que terminaria em bagunça. Um desenho divertido pode ser um excelente rótulo.
• Quarto ou cantinho pessoal. De vez em quando convém dar uma olhada na ordem do seu quarto ou do seu espaço pessoal; mas devemos fazer sempre com eles para que não pareça uma inspeção secreta para "pegá-los em flagrante". A finalidade dessa revisão não é recriminar a desordem, mas ajudar a melhorar a ordem; é assim que eles devem entender. Será muito bom que certos lugares da casa sejam de responsabilidade dos filhos e que eles respondam pela ordem ou pela desordem do ambiente. Um lugar cuja responsabilidade lhes cabe, indiscutivelmente, é o seu quarto ou a parte que lhes cabe no quarto, caso ele seja compartilhado com mais alguém. É seu espaço privilegiado, sim; mas não seu espaço exclusivo.
SUGESTÃO
Será muito bom que certos lugares da casa sejam de responsabilidade dos filhos e que eles respondam pela ordem ou pela desordem do ambiente. Um lugar cuja responsabilidade lhes cabe, indiscutivelmente, é o seu quarto ou a parte que lhes cabe no quarto, caso ele seja compartilhado com mais alguém. É seu espaço privilegiado, sim; mas não seu espaço exclusivo.